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quinta-feira, 3 de junho de 2010

“Cidadania”

No que diz respeito à origem etimológica, "cidadania" e "política" deveriam despertar em nós a mesma reacção significante. Ambas fazem referência à vida em sociedade, às qualidades ou condições do cidadão, isto é, do indivíduo livre e membro de um Estado que a ele garante direitos civis e políticos e dele exige o cumprimento de deveres e obrigações. Esse era o significado comum a essas palavras em suas respectivas nações de origem, a saber: romana e grega.

Mas é assim que entendemos "cidadania" e "política" hoje?

De facto, não. Há uma tendência de rejeição à "política" e de valorização à "cidadania", rompendo assim com o vínculo de natureza semântica existente entre elas. À "cidadania" atribuímos um sentido honroso, nobre, positivo. À "política" associamos o oposto: sujidade e corrupção. Nota-se, desse modo, que a palavra "cidadania", embora ainda conserve seu significado original, vem-se enriquecendo pelo uso recente, tornando-se, ao senso comum, superior à palavra "política".

Mas, afinal, o que "cidadania" significa hoje? Aos meus ouvidos parece soar, acima de tudo, como "direito à não exclusão", o que pode ter tudo ou nada a ver com seu sentido etimológico original.

Terá tudo a ver se pensarmos que tanto nas antigas Grécia e Roma nem todos eram considerados cidadãos. Nem todos podiam participar activamente da vida em sociedade. Havia os excluídos, entre os quais se encontravam os escravos, as mulheres e os estrangeiros. Enfim, nem todos eram cidadãos. Com a actual expansão de significado, "cidadania" deixou de ser um privilégio apenas de uma elite e passou a ser um direito de todos que, com voz e voto, podem influenciar o destino de um País, de uma Região ou da Cidade a que a que pertencem.

Contudo, a palavra "cidadania" terá seu significado desvirtuado se a restringirmos apenas a actos de caridade e políticas assistencialistas; se entendermos por "excluídos" apenas os pobres ou os integrantes de alguma minoria étnica; se não entendermos de que a maior exclusão é aquela que priva o ser humano do direito de fazer pleno uso da razão, de ser um agente cognitivo, de agir a partir da própria compreensão de que faz parte do todo maior – a sociedade em que vive – exigindo dela seus direitos e cumprindo para com ela seus deveres.

Infelizmente, parece-me que estamos mais inclinados a entender "cidadania" pelo via do assistencialismo e assim rompendo definitivamente com a semântica da palavra. Sabemos que cidadãos inconscientes, ignorantes, são facilmente ludibriados pela classe política, uma elite recheada de alienados egocêntricos que teimam em se ver como únicos e verdadeiros cidadãos.

Não é à-toa que, para a maioria de nós, "cidadania" e "política" não tenham o mesmo significado.

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