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sábado, 11 de setembro de 2010

“… somos todos iguais”

O governo tem obrigação de zelar pela diminuição das mortes na estrada, mas o seu modo de abordar o problema está provado ser aquele que mais mortes poderão causar. Faz praticamente o contrário, em tudo diferente das medidas tomadas nos países europeus que na década de 1950 tinham um número de mortes dos mais elevados.

Na Europa, as medidas adoptadas foram de dois tipos. Civilizar as pessoas na condução e corrigir a sinalização de modo a torná-la informativa e simultaneamente adequada, tornando-a quase intuitiva, donde fácil de seguir, lógica e credível.

Em Portugal, no que respeita à sinalização, após os curtos ou longos documentários de erros, confusões e outras barbaridades que nos têm mostrado através dos anos, não se tem verificado interesse da parte dos responsáveis da sinalização nem mesmo pela fiscalização. À parte estes erros, existem outros não menos importantes sempre com a sinalização. São aqueles que convidam ao desrespeito dos próprios sinais. Entre estes destacam-se os limites de velocidade estupidamente afixados. Nos outros países a velocidade máxima é fixada com uma margem de 10Km/h abaixo da máxima sem perigo, como margem de segurança. Em Portugal, pelo que se observa, as velocidades máximas sinalizadas devem ser atribuídas de acordo com um lançamento de dados, ou então segundo a opinião de qualquer perturbado mental a quem o irresponsável do serviço se lembrou de perguntar que limite deveria fixar. Em alguns desses sinais, a disparidade entre o lógico e o afixado é verdadeiramente descomunal, e a decisão financeira.

Que poderá isto originar nos condutores, senão a noção correcta de que essa sinalização não tem qualquer utilidade? Conduz-se sem realmente se saber a que velocidade se deve adaptar em circunstâncias com sinais de limites, pelo que na maioria dos casos não se dá a mínima importância ao sinal, a não ser que poderá haver alguma diferença do restante percurso, mas nem isso é sempre certo. A desobediência à sinalização é deste modo eficientemente favorecida e estimulada.

Que tem feito o governo no sentido de corrigir a enorme quantidade de sinais nestas condições ou nas restantes acima mencionadas? Deste modo, tem prestado o seu melhor contributo para a manutenção das mortes, dos acidentes e de outras dificuldades com origem nestas causas. O governo tem feito o contrário que se fez nos países para reduzir drasticamente as mortes na estrada e acidentes em geral.

Quanto à outra parte, a do civismo e da educação dos condutores, jamais o assunto foi abordado. Pior, visto ser a causa número um da grande maioria dos acidentes e ninguém o mencionar, tudo leva a crer que até a polícia deva estar proibida de tocar no assunto. Nos outros países, as autoridades, associações e clubes automobilistas, anúncios em jornais e revistas, etc., jogaram forte nesse ponto para obterem os resultados necessários. Mesmo depois das grandes campanhas que produziram drásticas diminuições do número de acidentes, prosseguiram o esforço com lembretes sobre o comportamento na condução na óbvia intenção duma redução contínua. Sempre com êxito.

É este o fulcro da questão e a origem da grande maioria dos acidentes: o civismo e o comportamento de quem conduz, tanto na estrada como quando bebe.

É bem conhecido o ditado que em Portugal se encobre e que diz que «é na estrada que se vê o civismo dum povo». Pelo que todos os que conduzem conhecem, do modo como os portugueses em geral conduzem, dificilmente poderiam ser mais incivilizados e mal educados. Evidentemente, o civismo não se limita ao modo de conduzir, e a educação está patenteada em todas as situações da vida ou quase. Ao longo das últimas décadas, um povo política e democraticamente imaturo desenvolveu a crença aberrante e catastrófica de que democracia era fazer (ou poder fazer) tudo que der na gana de qualquer abrutado, em que os direitos dos outros estão sempre depois dos seus, muito depois; que só se devem respeitar os direitos alheios desde que eu faça o que me apetecer. Ora aqui está o princípio básico da má educação e da falta de civismo no seu mais puro estilo selvagem. Como quase todos assim se comportam, passou a ser a característica geral nacional.

Esta característica e os hábitos que a definem estão tão arreigados no espírito das pessoas que elas estão sincera e estupidamente convencidas de que são realmente democráticas e civilizadas. Foram assim amestradas pelas oligarquias políticas que aplicaram o princípio basilar do marketing, que diz «se tu és OK, eu sou OK». Traduzindo para política, «se te crês honesto, civilizado e cumpridor, mesmo que não o sejas, eu também assim pareço para ti, pelo que votarás em mim». A corja jornaleira procedeu de modo idêntico com a intenção de encobrir a podridão política concomitante com a de vender papel. De lembrar que, contrariamente àquilo de que esses mesmos nos têm querido convencer, de que a Abrilada foi a conquista da liberdade para todos, a realidade é que ele foi-o apenas para esses dois grupos, pois que a restante população nada ganhou com o golpe, basta ver o estado em que ambos em conjunto puseram o país.

Foi deste modo que um povo, na sua generalidade de bons sentimentos, honesto, civilizado (pelo menos para a época) e trabalhador foi moldado por esses dois bandos que o transformaram naquilo que actualmente são: uns pobres diabos miseráveis pedantes, pobretões por não terem cabeça para conseguir o que lhes faz falta, mal educados dissimulados, incivilizados e mesmo ladrões (até do material de escritório dos seus locais de trabalho se apossam). Não se compreende que reclamem pelo comportamento dos políticos, sendo como eles. Não foram todos criados por pais idênticos e em escolas idênticas. Por isso que não são iguais, mas idênticos. Isto tornou o povo no mais atrasado, incivilizado, calão e de maus fundos da Europa, não obstante crerem-se o oposto. Obviamente, sem reconhecimento do que está mal nada se pode melhorar.

Pelos discursos dos políticos, pelo modo como utilizam o marketing político e como disso se servem, sabemos que eles sabem o que vale a população, pois que quase sempre conseguem enganá-la com sucesso e ela jamais consegue dominá-los nem obrigá-los a cumprir os seus deveres de procurarem o bem da população.

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