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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O desporto como desenvolvimento das populações

Desencadeados pelas grandes transformações económicas e sociais iniciadas a partir dos anos cinquenta, começaram a surgir novos estilos de vida que deixaram de poder ser compreendidos e explicados através do modelo linear sequencial do passado consubstanciado no tempo de educação, seguido pelo tempo de trabalho e este pelo tempo de reforma.
A vida começou a deixar de ser entendida e vivida, em regime de exclusividade, pelo modelo formado por aqueles três estádios que se sucediam sem intercomunicarem entre si e que representava o “paradigma da sociedade industrial”, estandardizada e sincronizada, se utilizarmos a expressão de Alvin Toffler, para começar a ser caracterizada pela existência de uma multiplicidade de actividades que se interpenetram e intercomunicam ao longo da vida de cada um, de cada geração, de cada organização e de cada sociedade: a educação, o trabalho, a reforma, o lazer, o jogo, a religião, a saúde, o desporto, bem como o acesso aos serviços e diversas outras actividades que acabam por traduzir, no seu conjunto os diversos elementos que gerem o padrão de organização social e definem a qualidade de vida dos indivíduos.
É neste quadro que entendo que deve ser processado o desenvolvimento do desporto a partir das autarquias, já que entendo o desporto como uma multiplicidade de práticas de características próprias que acontecem de forma integrada ao longo da vida de cada um, de cada grupo e de cada comunidade.
O desporto é uma realidade social que cruza as mais diversificadas áreas das actividades humanas, quer elas sejam de cariz profissional, educacional, recreacional ou relativas à saúde das populações.
Neste sentido, as autarquias enquanto pólos de desenvolvimento económico e social acabam por ter uma responsabilidade acrescida em todo este processo.
No entanto, no que às autarquias diz respeito, é possível verificar diferentes filosofias de acção entre diferentes Câmaras Municipais. É possível encontrar em todos os quadrantes políticos, desde modelos mais ou menos intervencionistas, até ao total abandono, em termos de ideias, do fenómeno desportivo.

Cada vez existe hoje uma maior consciência de que as autarquias não podem ser meras estruturas repetidoras a nível local, das políticas muitas vezes questionáveis desenvolvidas a nível nacional. Por exemplo, felizmente, muitas autarquias recusam-se a sustentar um falso profissionalismo de clubes que em vez de serem geradores de riqueza, são sorvedouros de recursos públicos que deveriam ser utilizados para benefício da população em geral, muitas vezes carenciada de condições de acesso à prática desportiva.
Penso que uma política desportiva conduzida a nível local, passa pela criação de condições para que a generalidade da população, desde que o deseje, tenha acesso ao desporto.
Em conformidade, as Câmaras Municipais têm de criar projectos de desenvolvimento do desporto de acordo com as suas próprias realidades.
Hoje é, de uma forma geral, reconhecido pela generalidade das pessoas que, na maioria das vezes, as Câmaras Municipais podem exercer no domínio do desporto, uma acção de grande utilidade para as populações. Essa acção revela-se tanto mais eficiente e eficaz quando as Câmaras Municipais suportam as suas políticas num enquadramento técnico a trabalhar em regime de tempo pleno, responsável e solidário pelas soluções que propõe.
O caminho que proponho neste trabalho, visa desencadear processos de dinamização do sistema desportivo municipal para um trabalho de maior qualidade junto das populações e onde a autarquia se posicione como interface dinâmico, integradora e potenciadora de todo o sistema desportivo, mas com uma vontade própria, uma ideia e um plano em relação ao desenvolvimento desportivo do seu espaço geográfico de intervenção, encontrando novas soluções que respondam às necessidades e consequentes exigências das populações que cada vez mais procuram uma vida activa através do desporto.
As actividades físico-desportivas informais e a auto-gestão, na medida em que a pessoa ou não necessita de qualquer apoio, ou necessita apenas que lhe sejam concedidas algumas facilidades por qualquer entidade para poder realizar a sua ocupação do tempo de lazer de uma forma autónoma ao nível de animação desportiva e da recreação, são áreas afinal de intervenção privilegiada para o poder local, bem como a criação de equipamentos desportivos, como são o exemplo dos centros de lazer, que devem merecer a atenção e a preocupação do trabalho das autarquias locais nesta área, para além dos apoios que normalmente são concedidos ao desporto de gestão tradicional, assentes na estrutura do movimento associativo.

Texto da minha tese de Mestrado
Direcção e Gestão de Desporto

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